O MAÇOM E A RELIGIÃO

20/08/2011 14:43

A Maçonaria não é uma religião, mas a Maçonaria Regular lida com a espiritualidade e, nesse sentido, atende inevitavelmente às conceções religiosas dos seus membros.
Tal como em relação à política, é vedada, no seio da Maçonaria Regular, toda discussão ou controvérsia religiosa. Sendo, no entanto, uma agremiação em que apenas são admitidos os que crêem em Deus, bviamente que a espiritualidade, em geral, é objeto da atenção dos maçons.
Como procedem então os maçons para satisfazer o seu interesse na espiritualidade e nas convicções religiosas sem violar a proibição de discussão ou controvérsia religiosa? De uma forma espantosamente simples e de uma eficácia comprovada ao longo de centenas de anos: estabeleceram o denominador comum e, para além dele, deixam ao íntimo de cada um as respectivas opções.
O maçom regular crê num Criador do Universo - esse o denominador comum; já quais as características, poderes, atuações, propósitos, intervenções, etc., do Criador do Universo, isso é matéria do foro íntimo de cada um. Cada um crê no Criador tal como o concebe, tal como a religião que pratica o levou a entender, aceitando ou discordando que tenha a característica "a" ou "b", o poder "x" ou "y", que atue no Universo criado, e como, ou não, atue, etc., tudo isso é pessoal e não se discute.
As religiões monoteístas têm diferentes designações para o Criador: Deus, Jeová (ou Javé, Yavé), Allah... Coletivamente, os maçons designam o Criador por uma denominação que - mais uma vez - é um denominador comum: Grande Arquiteto do Universo, e cada um, no seu íntimo, de acordo com a sua religião, designa-o como entende.
A Maçonaria concilia as diferenças religiosas de seus obreiros com a simplicidade eficaz que resulta do espírito de tolerância e harmonia: um Irmão é importante para o outro, não importando as diferenças culturais ou de pensamento religioso. Tal como não faria sentido distinguir entre louros e moremos, entre os que têm olhos azuis e os que os têm castanhos , entre os que são altos e os que são baixos, não faz sentido, na Ordem Maçônica, distinguir entre os que professam a religião "a" ou a crença "b". Ainda e sempre, o que os maçons há muito aprenderam e diariamente aplicam é que a diversidade é uma riqueza, uma vantagem, não um ônus.
Portanto, não me interessa a religião específica de meu Irmão. Basta-me a nossa crença comum no Grande Arquiteto do Universo. Este plano comum é apto e suficiente à nossa vivência em comum da espiritualidade. Não perdemos tempo em discutir as diferenças, não entramos no que seria um infantil jogo de "o meu Deus é mais poderoso que o seu", "a minha maneira de ver o meu Deus é mais eficaz que a sua" (afinal, o que realmente importa é como cada um se aperfeiçoa, melhora, se dignifica na sua passagem por esta vida e se prepara para o Mistério que está para além do Oriente). Achamos que é muito mais útil, mais eficaz, mais inteligente, retirar da vivência espiritual do outro as lições que nos sejam úteis para melhor aperfeiçoarmos a nossa própria vivência; e, ao mesmo tempo, abrirmos ao outro a nossa própria vivência espiritual, para que o outro dela retire e aprenda e utilize o que para ele seja mais útil.
Para o maçom, a religião, as diferentes religiões, não são pomos de discórdia, de discussão, de controvérsia, e sim oportunidades de diálogo, de aprendizagem, de cooperação no crescimento de cada um.
 

Rui Bandeira

Loja Mestre Affonso Domingues

G.'.L.'. Regular (Legal) de Portugal