O "Nada" Que Alguns "Encontram" na Maçonaria

10/02/2012 02:44

            “NADA”

            Conta-se que perguntaram a Pitágoras, após ter sido Iniciado nos "mistérios", o que tinha visto no Templo, tendo ele respondido simplesmente: NADA.
            Porém, Pitágoras era Pitágoras. Se, ao sair do Templo egípcio, não tinha visto “nada”, não se limitou a sair decepcionado, senão, buscando a origem deste “nada”, descobriu que era em si mesmo que não tinha visto “nada mais” que desejos e ilusões. Foi então que começou seu caminho para a sabedoria.
            Muitos Irmãos recém-iniciados se afastam da Ordem porque em nossas Lojas não encontram “nada”, porque o nosso simbolismo não lhes significa “nada”, porque na Maçonaria não se faz “nada”... Outros se queixam que nas Lojas se fala muito de simbolismo e “nada”; que a Maçonaria é uma instituição para se fazer amigos e “nada mais”; que só comparecem aos trabalhos da Loja para perder tempo e “nada mais”. Propomos perguntar-nos: o que significa esse “nada” com respeito à Maçonaria?

            “Fulano” não vai mais à sua Loja  porque “não encontrou nada...”. E como é que não encontrou “nada”? Não encontrou o templo com seu altar, as colunas, os móveis e a decoração? Não encontrou os Irmãos reunidos na Loja? E como diz. então, que não encontrou “nada” e que o simbolismo não lhe significa “nada”? Encontrou, então, pelo menos o simbolismo... E como pode dizer que na Maçonaria não se faz “nada”, e que na Loja se fala muito e “nada” mais? Então, faz-se alguma coisa, ainda que seja nada mais que falar...
            Parece que o “nada” que se encontra na Maçonaria não  deve  ser tomado ao pé da letra. O Neófito que entra no Templo encontra algo, porém não encontra o que busca; isto dá margem a várias perguntas:
            O que o profano que solicita ser Iniciado busca?
            2º O que a Maçonaria não pode oferecer?
            3º O que a Maçonaria pode oferecer?
            4º O que o neófito encontra, para dizer que “não há nada”?


            1º O que o profano que solicita ser Iniciado busca?
            Pode solicitar seu ingresso por vários motivos, desde o mais grosseiro materialismo, o desejo de encontrar protetores para seus negócios de qualquer espécie, até o motivo de mais elevado sentimento de humanitarismo. Em regra geral, é mistura de tudo, acrescido de curiosidade; e freqüentemente haverá um sentimento da própria imperfeição acrescido do desejo de melhorar-se e de aperfeiçoar-se. Não é raro também que se espere encontrar na Maçonaria um estímulo à ação para compensar a própria falta de atividade; idéias extraordinárias e originais que ponham em funcionamento o pensamento e a imaginação próprios.
            Pelo segredo e discrição que os maçons  guardam, o profano chega geralmente à nossa porta desconhecendo realmente o que o espera, vindo em contrapartida cheio de esperanças e ilusões que vão do inadequado até o absurdo.
            2º O que a Maçonaria “não poder oferecer”?
            A Maçonaria não é feita à medida das ilusões do neófito. Repetindo: a Maçonaria não é feita à medida das ilusões do neófito.
            Se este esperou uma renovação completa de sua personalidade por meio de um remédio amostra grátis e que se oferece a todo aquele que entra na Ordem, equivocou-se.Damos-lhes luz, as ferramentas para trabalhar, mostrando-lhes a pedra bruta e o modo de trabalhar nela. O resto é assunto do neófito. Ele tem que trabalhar para receber o seu "salário”, e este lhe é dado segundo a quantidade e a qualidade  do seu trabalho. Não poderá exigir que se lhe dê tudo de uma vez sem fazer o menor esforço. É aí, então, que acontece de o neófito não encontrar o que buscava.
            Ele buscava um meio cômodo para tornar sua vida mais fácil e agradável, para sentir-se importante sem esforço algum, para viver em paz consigo mesmo. E como não acha o que buscava, diz simplesmente: “Não encontrei nada”. Com isto, expressa que tudo o mais que encontra não tem importância para ele, e que aquilo que ele não encontra é o que ele queria e nada mais. Dizer que a Maçonaria não faz nada é outra maneira de revelar que se quer conseguir satisfações de amor próprio a baixo custo. Se na Maçonaria estivesse se cristalizando uma obra de autêntico humanismo, poderíamos participar da glória de sua realização sem que tivéssemos o trabalho de planejar e organizar sua execução. Se a Maçonaria fosse aquilo que querem aqueles que se queixam de não encontrar nada nela, ela seria idêntica às sociedades múltiplas de beneficência e clubes de serviço, cujos principais objetivos parecem ser que seus membros apareçam na imprensa escrita e falada a qualquer pretexto. Todas estas satisfações de amor próprio, todas estas ilusões e esperanças vazias, é o que a Maçonaria  não oferece. É por isso que aqueles que buscam esse tipo de coisa não encontram “nada”.
            3º O que a Maçonaria “pode oferecer”?
            Do ponto de vista das pessoas mencionadas anteriormente, “nada”, pois para elas o trabalho, o estudo, não são nada, e se não tiverem a paciência necessária, se afastarão.
            Quanto mais irreais e fantásticas forem suas esperanças, mais necessitarão para encontrar o que a Maçonaria oferece, e que é: trabalho, ferramentas para executá-lo, e o “salário” que somente se obtém trabalhando. O neófito deve aprender que na Maçonaria não encontrará satisfação alguma senão em razão do seu próprio trabalho.
            Através do seu aprendizado se dará conta de que se a Maçonaria lhe der, sem sacrifício, as satisfações que estava procurando, então sim, poderá dizer “que não é nada”. O que acontece é que o homem moderno tem do trabalho  um conceito muito diferente do que tinham as corporações de construtores da Antiguidade. Para a maioria, hoje, o trabalho é escravidão, atividade mecânica, impessoal, algo que se faz porque tem que se viver e comer e, sem trabalho, não há comida; algo que se faz sem grande satisfação, esperando que o relógio marque a hora da saída. Dali então partimos para o descanso, a diversão, as comodidades. São poucos aos quais a sorte reservou um trabalho construtivo, e menos ainda existem pessoas capazes de buscar e achar o descanso em uma atividade de tipo superior, uma atividade criadora. O construtor medieval não se preocupava em apressar o tempo para terminar a catedral, mas sim se detinha nos detalhes da construção, acrescentando uma grande variedades de enfeites e esculturas tão belas como  indispensáveis para a arquitetura, simplesmente porque sentia o gosto de criar algo belo e bonito.
            Nós já não compreendemos mais facilmente este prazer pelo trabalho. Queremos que o trabalho termine o mais depressa possível, para que possamos nos dedicar a outras atividades nas quais encontramos mais prazer.
            Necessitamos voltar a descobrir a vocação artística do homem - a única que lhe dá plena satisfação - de não servirmos unicamente de apêndice pensante da máquina, e procurarmos realizar um trabalho criador.
            4º O que o neófito encontra, para dizer que “não há nada”?
            Bate à porta do templo, ela se abre e ele não encontra nada. O que é este “nada”?
            Já dissemos: tomar a palavra em sentido estrito é um absurdo. Algo ele encontra, e se nós o pressionarmos um pouco, ele nos dirá “Não há nada, somente palavras, somente ritualística, somente símbolos, somente idéias antiquadas”. Algo, portanto, ele encontra, porém não “o que buscava”. E como o que ele encontra não é nada em comparação com o que buscava, diz simplesmente que não há nada.
            Porém, este “nada” não é somente um fenômeno negativo. Este “nada” e como um gérmen, algo novo e grande.
            O irmão que se afasta da Loja, queixando-se de “não haver encontrado nada”, não se limita somente a isto. Afasta-se desgostoso, decepcionado. O encontro com o “nada” o afetou no mais profundo do seu ser. Não achou o que buscava, porém encontrou precisamente seu próprio desgosto, sua própria decepção.
            Ainda que se vá de nosso convívio, sua decepção o seguirá. E ainda que não o confesse, não deixará de pensar, de vez em quando, que, para encontrar algo, são necessárias duas coisas: algo que existe e alguém que saiba procurar. Ao lado do seu orgulho, pois ele "não se deixou enganar”, estará a constante inquietude acerca do que terão encontrado os que ficaram e que ele não soube encontrar. Se vê, assim, posto frente a frente com sua própria insuficiência, com seu próprio NADA.
            Se for sincero consigo mesmo, reconhecerá que onde não encontrou nada foi em si mesmo.
            Este é o ponto onde começa a germinar a idéia maçônica. Se o neófito, o irmão chegar a este ponto, começará a ser MAÇOM.


Autor desconhecido
Tradução: Ir.’. Kurt Max Hauser - Gr.'. Loj.'. Maç.'. do RS