Esboço Histórico da Maçonaria no Brasil

05/11/2012 20:21

             O desenvolvimento da Maçonaria no Reino Lusitano data do governo de Sebastião José de Carvalho, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal. Possuímos apenas notícias vagas acerca da existência de maçons avulsos e esparsos em Olinda, Salvador, Rio de Janeiro, Campos e Niterói em fins do século XVIII e logo no início do século XIX, mas não havia organização federativa entre estas Lojas: algumas se instalaram subordinadas ao Grande Oriente de Portugal, outras ao Grande Oriente da França, e outras, ainda, independentes.

            Logo no início do século passado encontramos na Capitania pernambucana numerosas sociedades secretas: o Areópago de Arruda Câmara, a Academia dos Suassunas, a Academia do Paraíso, a Universidade Secreta de Antônio Carlos, a Escola Secreta de Guimarães Peixoto, a Oficina de Igaraçu..., mas a primeira notícia acerca da Maçonaria própriamente dita, no Brasil, nos é fornecida pelo manifesto que José Bonifácio dirigiu em 1832 aos maçons de todo o mundo, comunicando que em 1801 fora instalada a primeira Loja Simbólica regular, com o título de "Reunião" e filiada ao Grande Oriente da França. No ano seguinte, em 1802, encontramos na Bahia a Loja "Virtude e Razão".

            Quando o Grande Oriente de Portugal soube da existência, no Brasil, de uma Loja regular subordinada Grande Oriente francês, enviou, em 1804, um delegado a fim de garantir a adesão e a fidelidade dos maçons brasileiros, mas não foi feliz o delegado lusitano no modo como impôs suas pretensões. Assim, resolveu deixar fundadas duas novas Lojas, subordinadas ao Grande Oriente Oriente do Reino: eram as Lojas "Constância" e "Filantropia".

            A mencionada Loja "Virtude e Razão", fundada em 1802, constituiu outra em 1807, com o nome de "Humanidade" e mais uma em 1813, a "União". Completado assim o quadro mínimo de três Lojas, foi criado, no mesmo ano de 1813, o primeiro Grande Oriente. Mas devido à revolução de 1817 este Grande Oriente e suas lojas adormeceram.

            Em 1809 fundou-se outra Loja em Pernambuco, que, por sua vez, serviria de núcleo para outras três, sendo também estabelecida uma Grande Loja Provincial, mas como tinham fins pronunciadamente políticos, tiveram que suspender, também em 1817, suas atividades. No Rio, entretanto, fez-se nova tentativa com a fundação das lojas "Distintiva" e "São João de Bragança" - a primeira no ano de 1812 em São Gonçalo da Praia

Grande ou Niterói e a segunda no próprio Paço Real da corte de D. João VI, mas sem conhecimento do monarca. Também estas duas Lojas tiveram existência efêmera.

            Com a fundação da Loja "Comércio e Artes", em 1815, no Rio, à qual se filiaram numerosos maçons da antiga Loja "Reunião", iniciou-se uma era mais sólida para a Maçonaria no Brasil. Mas esta Loja, que existe ainda hoje, conseguiu firmar-se definitivamente apenas em 1821, depois de passar pela prova de fogo de 1818, quando D. João VI fez publicar um “alvará”, pelo qual se proibia a existência de qualquer “sociedade secreta”, acusando as mesmas de conspirar contra o Estado (os maçons almejavam a independência). Mas a Loja "Comércio e Artes" conseguiu vencer as dificuldades. Nela reuniram-se, desde logo, eminentes estadistas, políticos, eclesiásticos e outras altas autoridades e personalidades. O pensamento predominante era então o da independência do Brasil e o maior trabalho da Loja era a campanha pela independência.

            Era, porém, indispensável que primeiramente a própria Loja se tornasse independente do Grande Oriente Lusitano. Foi assim que, no dia 28 de maio de 1822, a convite do capitão João Mendes Viana, reuniram-se os maçons do Rio de Janeiro em assembléia magna, na Loja "Comércio e Artes", com o fim de instalarem um Grande Oriente do Brasil. Para conseguirem o mínimo de três Lojas, fundaram naquele mesmo dia mais duas: a "União e Tranqüilidade" e a "Esperança de Niterói".

            Fundado o Grande Oriente do Brasil, era do interesse da Maçonaria que o príncipe regente, Dom Pedro, fosse iniciado. Aos 13 de maio de 1822 a Maçonaria conferiu-lhe o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”. Pouco depois, no dia 2 de Agosto, era o príncipe iniciado, adotando o nome simbólico “Guatimozim”, sendo, depois, eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, mas ainda no mesmo ano de 1822 o próprio Grão-Mestre D. Pedro I, por desentendimentos entre os maçons, fechou o Grande Oriente.

            José Bonifácio fundou uma sociedade secreta, "meio maçônica e meio carbonária", denominada "Apostolado" ou "Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz". Esta associação tinha fins políticos e era muito semelhante à famosa "Alta Venda" da Itália. Depois também o Imperador participou do Apostolado, sendo-lhe conferida a dignidade de Arconte-Rei. Com uma Carta de Lei de 20 de Outubro de 1823 Dom Pedro revogou e cassou o Alvará de 1818; pelamesma lei, porém, tornaram a ser proibidas as sociedades secretas, sob pena de morte ou de exílio.

            Entretanto, em 1831 foi restaurado o Grande Oriente do Brasil. Foi de novo aclamado Grão Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva, que dirigiu então aos maçons do mundo e do Brasil um famoso "manifesto maçônico".

Quando em 1832 foi promulgada e jurada a primeira Constituição Maçônica, instalou-se também o Supremo Conselho do Rito Escocês, sob a presidência do Visconde de Jequitinhonha ("Montezuma"), mas independente do Grande Oriente. Dois anos depois, em 1835, cindiu-se este Supremo Conselho em dois: um fiel ao Visconde de Jequitinhonha e outro unido ao Grande Oriente e sob a direção de José Bonifácio. Este último Supremo Conselho, por sua vez, subdividiu-se, ficando parte sob a presidência de Barreto Pedroso (sucedido logo mais pelo Conde de Lajes) e parte sob Cândido Ladislau Japiassú. Em 1838 Japiassú e o Conde de Lajes reuniram-se e aliaram-se ao Grande Oriente, permanecendo, porém, independente o grupo do Visconde de Jequitinhonha. Posteriormente houve mais algumas cisões e uniões, mas de pouca duração e de secundária importância.

            Em 1863 cindiu-se o Grande Oriente, ficando uma facção na rua do Lavradio e outra na rua dos Beneditinos. Estas duas potências, o "Grande Oriente do Lavradio" e o "Grande Oriente dos Beneditinos", desentenderam-se por largos anos e apenas tornaram a unir suas forças por ocasião da "questão religiosa". O Oriente dos Beneditinos, sob a batuta de Saldanha Marinho ("Ganganelli"), fundou mais tarde um Supremo Conselho próprio.   Em 1864 uniram-se o Supremo Conselho presidido pelo Visconde de Jequitinhonha e o Grande Oriente do Lavradio com seu Supremo Conselho, formando então um conjunto que passou a ser denominado oficialmente "Grande Oriente e Supremo Conselho do Brasil". Afinal, em 1885, também o Grande Oriente dos Beneditinos, com seu Supremo Conselho, uniu-se ao grupo formado em 1864, sendo então internacionalmente reconhecido como regular e legítimo o Grande Oriente do Brasil.

            O acordo de 1864 vigorou até 1925, quando foi firmado outro convênio, mas em 1927 sobreveio nova e até hoje irreparável cisão entre o Grande Oriente e o Supremo Conselho. No dia 21 de junho de 1927 o Supremo Conselho, comandado por Mário Behring, rompeu os tratados com o Grande Oriente; deu-se início às Grandes Lojas brasileiras.

            (B. Kloppenburg)