A MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO FRANCESA (1.789)

13/09/2011 16:09

Que papel a Maçonaria teve na Revolução Francesa?

Ainda hoje é frequente ler e ouvir que a Revolução Francesa é sinônimo de uma ação vigorosa e organizada da Maçonaria francesa.

Sendo indiscutível, por múltiplos registros históricos, que uma grande parte da elite intelectual francesa integrava a Maçonaria, isso não significa que ela estivesse alinhada, como tal, com a ideologia revolucionária de então.

A importante presença dos maçons é outro fato inquestionável, muito ativos individualmente, mas presentes em todos os campos político-ideológicos, inclusive entre os "chouans", que constituíam a corrente política e militar de defesa dos interesses da realeza.

(Os "chouans" eram os partidários da monarquia e da realeza, que lutaram contra os revolucionários na França.)

A primeira iniciativa em torno da criação do mito dos maçons como autores da Revolução é do padre Lefranc, diretor do seminário de Caen que, em 1.791, publicou um livro com um extenso título e cuja parte inicial era “Le Voile Levé Pour les Curieux ou Les Secrets de la Revolution Revélés”, ou seja: "O Véu Levantado Para os Curiosos, ou Os Segredos da Revolução Revelados".

Uns anos mais tarde surgiu um ex-jesuíta, o padre Barruel, que publicou um livro que teve várias edições, sendo a primeira de 1797/1798, com o título: “Les Mémoires Pour Servir à l’histoire du Jacobinisme”, ou seja: "Memórias Para a História do Jacobinismo".

(O Jacobinismo foi a doutrina política revolucionária radical.)

Toda a campanha antimaçônica, visando fazer crer que a Revolução Francesa foi obra da Maçonaria, acabou por partir dele.

Este tipo de especulações levou, ao longo de muitas décadas, à divulgação de informações falsas sobre a suposta filiação maçônica de personalidades ligadas à liderança da Revolução, como Robespierre, Saint Etienne, Danton, Saint Just, Desmoulins e mesmo Condorcet.

Foi simultaneamente desenvolvida a tese de que o objetivo fundamental da Maçonaria seria a destruição integral da monarquia francesa, dadas as suas estreitas ligações com o movimento republicano.

Porém, a análise rigorosa dos fatos e dos registros históricos leva à conclusão de que a Maçonaria, como tal, teve um papel muito discreto durante a Revolução, senão mesmo nulo, ao contrário da lenda que foi criada.

Se entre os protagonistas revolucionários o número de maçons foi reduzido, eles abundavam entre os príncipes, duques e membros da “Câmara dos Pares”, dos quais o nome mais destacado era o do duque Montemorency-Luxembourg, que exercia o cargo de administrador-geral do Grande Oriente de França.

(A Câmara dos Pares, corpo político legislativo, era formada por membros da nobreza.)

Em todos os lados do conflito político, econômico e social que marcou profundamente a França e todo o contexto internacional, e que foi responsável por um dos maiores avanços civilizacionais em toda a história conhecida, estiveram maçons como Chaumette, Marat, quatro dos membros do Grande Comitê de Salvação Pública (Barére, Couthon, Prieur de la Marne, Jeanbon Saint-André), numerosos nobres que emigraram, aristocratas que morreram na guilhotina, etc.

O período do governo revolucionário foi particularmente nefasto para a Maçonaria, tendo conduzido à situação de a maior parte das Lojas terem deixado de funcionar devido a múltiplos fatores, embora isso não tenha sido o resultado de uma ação repressiva sistemática e organizada do poder contra a filiação maçônica.

O próprio Grande Oriente de França conseguiu sobreviver graças à atividade do banqueiro Tassin, que tinha substituído Luxembourg como seu administrador-geral.

José Marti M.'.M.'.

Portugal - novembro de 2010

Adaptação e notas: H. Teodoro